Poema para Ana
Às vezes eu sei que não há Deus
Outras, reparo nos teus olhos, Ana. São realmente olhos? São realmente teus? São mistério de outra raça mais humana? Serão assim os mortos que aparecem E nos afagam com mãos de seda preta? Os teus olhos, Ana, são coisas que acontecem A quem esteve fechada séculos numa gaveta.Se não tivesse vindo o Príncipe estrangeiro
Enchendo a nossa casa de ramos de giesta Estariam ainda dragões de nevoeiro A guardar os teus olhos perdidos(...) Natália Correia
"Na sonolência das tardes ou respirando a brisa salgada da noite, deitada numa chaise-longue com velhas revistas sem capa e páginas dobradas que folheava maquinalmente, Isabel reencontrava algumas sensações, algumas recordações e pensamentos recorrentes que se fundiam, dilatavam ou fermentavam novas esperanças, onde se desenhavam imagens tórridas em que o desgosto do passado cedia lugar a ternas revelações prenunciando os limites do futuro.
Foi com um incrível atraso que Isabel descobriu o prazer solitário. Num dado momento, a sua sensualidade - sã, equilibrada, purificada por uma camaradagem desportiva com a juventude queimada ao sol - arrefecera e petrificara-se para depois renascer com os meses de Verão, reanimada por novas tentações e o vício da adolescência".
Mircea Eliade, Isabel e as Águas do Diabo, Livros do Brasil, Lisboa, 2000.
Deus é maneta
diz Saramago
só tem a mão direita
à direita da qual todos se sentam.
Eu canto a outra mão de Deus
a que traz o Diabo pela trela
a que por vezes puxa para o outro lado
e escreve sempre por linhas tortas
a mão esquerda de Deus
a mão de sombra a mão do medo
a mão do nada
a mais perigosa mão de Deus
aquela que de repente solta o espírito
o enxofre a guerra o vento mau.
É a mão esquerda de Deus que aperta o coração
acelera o pulso
desarticula o ritmo.
Os poetas estão sentados à esquerda da mão esquerda
de Deus
até mesmo Antero.
É com ela que Deus abana o Mundo
com sua chuva e com seu fogo
sua onda gigante e seu terrível
terramoto.
Não é verdade que Deus seja maneta
Deus é canhoto.
Manuel Alegre, Livro do Português Errante, Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2001.
"Quando pensamos nos tempos sombrios e nas pessoas que neles viveram e se movimentaram, temos que levar em linha de conta esta camuflagem, emanada do "poder estabelecido" - ou do "sistema", como então se dizia - e por ele difundida. Se a função do domínio público é iluminar os assuntos dos homens, proporcionando um espaço de aparências onde eles podem mostrar, em palavras e actos, para o melhor e o pior, quem são e o que sabem fazer, então as trevas chegam quando esta luz é apagada pelas "faltas de credibilidade" e pelo "governo invisível", pelo discurso que não revela aquilo que é, preferindo escondê-lo debaixo do tapete, pelas exortações, morais ou outras, que a pretexto de defender velhas verdades degradam toda a verdade, convertendo-a numa trivialidade sem sentido".
Hannah Arendt, Homens em Tempos Sombrios, Relógio D'Água, Lisboa, 2001.
"Magia, sim, certezas, não. Nunca as houve entre nós. Nem mesmo quando pequenos. Então eras tu a mais inquieta. Gostas de mim? - perguntavas constantemente. Precisavas de resposta, às vezes de meia em meia hora.
- Por que perguntas? Já sabes que sim.
- Não sei, estás sempre a inventar.
É verdade que inventava: histórias, romances de cavalaria, aventuras em que o herói era eu e tu a causa. Sim, já então inventava, como agora te invento e nos invento.
Mais tarde comecei eu a perguntar: Gostas de mim? E nenhuma resposta me sossegava.
Cresceste mais depressa. De repente ficas-te mulher, parecias mais velha, ainda que mais nova, eu sentia-me em fífia, falava alto quando queria falar baixo, dizia o contrário do que pretendia, estudava estratégias que saíam sempre erradas. Gostas de mim? E às tantas começaste a irritar-te.
- Não sei, nunca se sabe, às vezes acho que sim, às vezes acho que não.
Foi então que tudo se alterou dentro de mim. Complicou-se ainda mais o meu esquema de esconjuração. Nunca mais tive qualquer certeza a teu respeito. Era por certo o que querias. Assim te vingavas da tua antiga inquietação. Ou talvez não. Talvez que, a partir de certa altura, tu fosses mesmo assim. Sabias e não sabias. Gostavas e não gostavas. Ou não gostavas de gostar. Ou gostavas e não querias. Ou querias gostar como dantes e já não eras capaz. Talvez a magia tivesse desaparecido. Não sei. Foi-se-me a paz e a plenitude que era eu gostar de ti. Ficou um travo amargo, uma dor, uma paixão. Quando deixei de acreditar em Deus, o amor tomou o lugar da perdida fé. Posso dizê-lo sem temor: Deus eras tu. Tu eras a minha fé e a minha religião. Foi o que eu disse ao Padre Júlio. Que me respondeu: O amor é sempre uma religião, é haver Deus e não haver".
Manuel Alegre, A Terceira Rosa, Pub Dom Quixote, Lisboa, 2008.
"Sabes dizer-me porque é que as mulheres têm tido sempre tão má reputação? (...) de onde vem esse medo?
José António Marina: - Penso que em primeiro lugar da diferença. Possivelmente na pré-história a mulher já aparece relacionada com as forças da natureza, através de dois fenómenos surpreendentes tais como o nascimento e a morte. Surge aqui outra fonte de ambivalências. Em muitas culturas, apenas as mulheres se podem ocupar dos mortos. As representações das deusas da fecundidade, figuras femininas são antigas. A deusa Kali, na cultura indiana representa ao mesmo tempo a capacidade destruidora e criadora. Penso que se pensou que as mulheres estão em contacto com as forças que escapam ao controlo do homem. Admira-me que até as mulheres tenham insistido no carácter obscuro da sexualidade feminina. Simone de Beauvoir, por exemplo, diz que nela "tudo é misterioso para a própria mulher, oculto e Atormentado". (...)
Nativel Preciado: - Esta identificação da Mulher com a natureza continua ainda vigente.
J.A.M.: - De facto, é necessário lembrá-lo aqui para entender alguns dos debates feministas modernos. Durante séculos natureza e cultura foram opostas. A mulher era natureza e o homem era cultura. Daí o empenho actual em diferenciar os sexos (macho e fêmea), que são acontecimentos naturais, dos géneros (masculino e feminino), que são acontecimentos culturais. As mulheres querem reivindicar uma genealogia cultural e não biológica. (..) Os filósofos, os teólogos, os juristas, os médicos repetem constantemente as mesmas referências e apelam às mesmas autoridades. Desde os gregos que se recria o mesmo estereótipo, as mesmas graças e os mesmos ataques. (...) Como era de esperar, as criticas centram-se no seu poder de sedução. Projectava-se na mulher o desgosto produzido pelo próprio desejo. Para os gregos, o eros, o desejo era uma espécie de substância possuída pela pessoa amada. É ela que lança o desejo na alma do amante. Creio que, por uma curiosa inversão de personagens, a insaciabilidade do desejo masculino se transferiu para a mulher. E assim aparece um dos estereótipos mais duradouros: a mulher tem uma sexualidade insaciável. A isto junta-se a sua vontade de atrair o homem, com boas ou más artes".
Nativel Preciado, O que Sentem as Mulheres, Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2000.
"Alegre-se na abundância de poder despertar cada manhã e viver um novo dia. Esteja feliz por estar vivo, por ter saúde, por ter amigos, por ser criativo, por ser um exemplo vivo da alegria de viver. Viva o máximo da potencialidade da sua consciência. Goze o seu processo de transformação".
Louise L. Hay, Pode Curar a sua Vida, Pergaminho, Cascais, 2001.
A Prosperidade divina é o meu direito de nascença. Nada me faltará. Sou herdeira de um tesouro divino, nasci para herdar tudo o que existe de bom. Saúde, Riqueza, Amor, Paz e Alegria foram-me destinados por Deus, simplesmente porque existo. Sei que nada daquilo que eu preciso me faltará. Com a graça perfeita de Deus, a divina Abundância e Prosperidade convergem por caminhos perfeitos na minha direcção.
"De noite, uns enlouqueciam mais do que os outros.
Ou então, de súbito, um instinto de sobrevivência funcionava, uma chamada de vigilância, um toque na alma, durante as noites frias que sobrevieram depois da chuva, acontecia. Porque eles, os dois, emitiam sinais claros, perceptíveis. Maria Ema e Walter Dias rondavam a desoras, pela casa. Todos sabiam. Por volta da meia-noite, ela passava no corredor, de candeeiro na mão, para ir buscar água e ouvia-se o roçar morno das suas chinelas. Em baixo, Walter saía para a rua, abria a porta, ouvia-se o trinco da porta, depois a porta do carro, ouvia-se a batida metálica e abrupta do trinco do Chevrolet. E de novo, ele entrava em casa com os passos espumosos dos seus sapatos de borracha e pele de búfalo. Calculando as passadas de um e de outro, deveriam ver-se em roupão. Viam-se, por certo. Se não se viam, era como se vissem. Estavam cegos. Faiscava ali dentro um relâmpago sem luz."
Lídia Jorge, O Vale da Paixão, Pub. Dom Quixote, Lisboa, 1998.
O Conhecimento é o Primeiro Passo no Processo de Cura ou de Mudança
"Quando temos algum padrão profundamente arreigado dentro de nós, devemos, em primeiro lugar, tornarmo-nos conscientes dele para poder curar ou alterar a condição. É possível que comecemos por mencionar a condição em causa, por nos queixarmos dela ou por a constatarmos nas outras pessoas. Ela vem assim à superfície da nossa atenção, de uma forma ou de outra, e começamos a relacionar-nos com ela. Muitas vezes, atraímos um professor, um amigo, uma aula, um seminário, ou um livro, que começará a despertar em nós novas formas de abordar a supressão do problema".
Louise L. Hay, Pode Curar a Sua Vida, Pergaminho, Cascais, 2001.
"O nome desta poderosa deusa guerreira, significa "mulher intoxicada". Conhecida pela sua vontade férrea e pela capacidade de manifestar tudo o que quiser, está associada ao ciclo menstrual e à beleza feminina. Esta deusa é também uma rainha das fadas e uma deusa da terra, muito amada pelos cavalos."
Doreen Virtue, Arcanjos e Mestres Espirituais, Pergaminho, Cascais, 2005.
"Os amigos. Entrariam por uma casa em chamas para nos salvarem. Mentem por nós à nossa própria mãe. Sabem de nós mais do que somos capazes de lhes dizer. Jurariam que à hora do crime estávamos a tomar chá com eles. Mesmo que a polícia nos encontrasse com as mãos cheias de sangue. "São rosas, senhores. Sangue de espinhos, senhores."
Eles exigem-nos coisas de nada. As nossas lágrimas. O nosso lenço de assoar. A pele dos nossos inimigos. As batatas fritas do nosso bife. A nossa melhor roupa, por uma noite. Exigem-nos tudo o que nos dão. É preciso regá-los regularmente: é nos ombros deles que cai toda a água dos nossos olhos. Eles espevitam-nos o sentido de humor quando menos nos apetece. E depois ficam connosco quando as luzes se apagam e toda a gente se foi embora. Só aos amigos é dado o espectáculo da nossa miséria.
A paixão é uma fatalidade fácil. Uma aparição divina, só. Não há maneira de a prender para toda a vida. Por isso a embrulhamos no áspero papel da amizade. Para preservar e esquecer.
À paixão aceitam-se confissões de ciúme, vorazes de posse. À amizade não. Somos capazes de confessar tudo aos nossos amigos menos essa insegurança que nos mói."
Inês Pedrosa, A Instrução dos Amantes, Pub. Dom Quixote, lisboa, 2002.
Amor é um livro Sexo é esporte Sexo é escolha Amor é sorte Amor é pensamento Teorema Amor é novela Sexo é cinema Sexo é imaginação Fantasia Amor é prosa Sexo é poesia O amor nos torna Patéticos Sexo é uma selva De epiléticos Amor é cristão Sexo é pagão Amor é latifúndio Sexo é invasão Amor é divino Sexo é animal Amor é bossa nova Sexo é carnaval Oh! Oh! Uh! Amor é para sempre Sexo também Sexo é do bom Amor é do bem Amor sem sexo É amizade Sexo sem amor É vontade Amor é um Sexo é dois Sexo antes Amor depois Sexo vem dos outros E vai embora Amor vem de nós E demora Amor é cristão Sexo é pagão Amor é latifúndio Sexo é invasão Amor é divino Sexo é animal Amor é bossa nova Sexo é carnaval Oh! Oh! Oh! Amor é isso Sexo é aquilo E coisa e tal E tal e coisa Uh! Uh! Uh! Ai o amor Hum! O sexo
Estar contigo ao acordar, ver como
se abrem as tuas pálpebras, cortinas
corridas sobre o sonho, sacudir dos
teus lábios o silêncio da noite para
que um primeiro riso me traga o dia:
assim, amor, reconheço a vida que
entra contigo pela casa, escancara
janelas e portas, deixa ouvir os pássaros
e o vento da manhã, até que voltas
para junto de mim, e tudo recomeça.
Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês, Pub. Dom Quixote, 2001.
"Quando acordamos de manhã nunca sabemos exactamente como o dia vai terminar. Óptimas surpresas e acontecimentos maravilhosos podem estar à nossa espera. Todos os seus pensamentos criam o seu futuro, cada pensamento que pensa está a criar o seu futuro".
Louise L. Hay, Meditações para a Manhã e para a Noite, Pergaminho, Cascais, 2003.
"Há muitos anos que entrevisto mulheres que tiveram êxito na sua profissão: cineastas, escritoras, advogadas, jornalistas, editoras, empresárias, ministras, parlamentares, actrizes e cientistas... São independentes, cultas atraentes, brilhantes, livres, auto-suficientes e, na maior parte dos casos, moderadamente feministas. Supõe-se que os seus problemas são diferentes dos da funcionária da bilheteira do metro, da caixa do supermercado, da polícia de trânsito, da varredora, da empregada de uns grandes armazéns... Pois bem, trata-se de uma falsa aparência. A sua vida íntima não é muito diferente da de qualquer uma das outras. Pretendo demonstrar que elas têm as mesmas inquietações que as trabalhadoras menos qualificadas. A notoriedade pública, portanto, não é garantia de êxito privado, e sendo assim de nada serve procurar a felicidade fora de si mesmo".
Nativel Preciado, O que Sentem as Mulheres, Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2000.
" O dia acabou. As experiências foram vividas e pertencem ao passado.
Agora é o momento de as deixar ir. Esqueça agora o seu local de trabalho. O dia pode ter sido óptimo ou péssimo, mas acabou. Deixe-o ir-se embora. Com tranquilidade e amor, traga a sua atenção para este momento, para este lugar no tempo e no espaço".
Louise L. Hay, Meditações para a Manhã e para a Noite, Pergaminho, Cascais, 2003.
"(...) após termos reflectido sobre os defeitos de uma maneira de pensar e de viver egocêntrica e também sobre as consequências positivas de se estar atento ao bem-estar dos outros seres sensíveis e de trabalhar para o seu benefício, uma vez convencidos disto, há então na meditação budista um treino especial que é conhecido como "a prática de Dar e Receber". É uma prática especialmente designada para desenvolver o poder da compaixão e do amor pelos outros seres sensíveis. Envolve, basicamente, a visualização de tomar para si próprio todos os sofrimentos, dores, negatividade e experiências indesejáveis dos outros seres sensíveis. Imaginamos que os tomamos sobre nós e depois damos-lhes ou partilhamos com eles as nossas qualidades positivas, tais como os nossos estados de espírito virtuosos, a nossa energia positiva, a nossa saúde, felicidade, etc. Semelhante forma de exercício (...) causa efectivamente, psicologicamente, uma tamanha transformação no nosso espírito que os nossos sentimentos de amor e de compaixão se desenvolvem consideravelmente."
Dalai Lama, O Poder da Compaixão. Ensinamentos Cruciais do Budismo, Livros e Leituras, Lisboa, 1999.
" Morrie acreditava na bondade inerente das pessoas. Mas também via no que se podiam tornar.
- As pessoas só são más quando se sentem ameaçadas - disse mais tarde nesse dia -, e é isso o que a nossa cultura faz. É o que faz a nossa economia. Até pessoas que têm emprego se sentem ameaçadas, porque se preocupam em perdê-lo. E quando te sentes ameaçado, começas a pensar só em ti. Começas a fazer do dinheiro um deus. Faz tudo parte desta cultura. Exalou.
- É por isso que não a engulo. (...)
- Aqui está o que entendo por construir a tua própria subcultura. - disse Morrie - Não digo que se deva eliminar todas as regras da nossa comunidade. Por exemplo não ando nu por aí. Não acelero nos sinais vermelhos. Às pequenas coisas, posso obedecer. Mas as coisas grandes, o modo como pensamos, a que é que damos valor, essas coisas tens de ser tu a escolher. Não podes deixar nenhuma sociedade, nem ninguém, determiná-las por ti."
Mitch Albom, As Terças com Morrie, Sinais de Fogo, Lisboa, 1999.
No 50º aniversário da sua morte não posso deixar de relembrar a voz, a resistente, a amante intensa, a Mulher angustiada, desgastada pelos vícios, pela vida e pelo amor. Quem nunca chorou ao ouvir Non je ne regrette rien...
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltamos campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, Poesia Completa, "Ode à Paz", Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2007.
"Aquilo que pensamos a respeito de nós próprios torna-se verdade para nós. Eu acredito que somos todos, eu incluída, responsáveis por tudo o que acontece nas nossas vidas, o melhor e o pior. Cada pensamento que concebemos cria o nosso futuro. Nós criamos as nossas experiências através dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos. Os pensamentos que concebemos e as palavras que proferimos criam as nossas experiências.
Nós criamos as situações e em seguida abdicamos do nosso poder ao culpabilizar os outros pela frustração que sentimos. Não existe pessoa, objecto ou lugar algum que possa ter qualquer poder sobre nós, porque "nós" somos os únicos pensadores no processo. Quando criamos paz, harmonia e equilíbrio nas nossas consciências, encontrá-los-emos nas nossas vidas."
Louise L. Hay, Pode Curar a Sua Vida, Pergaminho, Cascais, 2001.
Em sua boca florescem os vocábulos
o leite e o mel inundam suas coxas
ela sabe a ternura e o perdão
consola o justo e o pecador
em seu corpo o corpo se purifica
em seu amor o espírito se redime
em sua perdição está nossa única e santa
salvação.
Beijarei sua carne de inocência
quem nunca amou atire
a primeira pedra.
Manuel Alegre, O Livro do Português Errante, "Maria Madalena", Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2001.
Às vezes eu sei que não há Deus
Outras, reparo nos teus olhos, Ana.
São realmente olhos? São realmente teus?
São mistério de outra raça mais humana?
Serão assim os mortos que aparecem
E nos afagam com mãos de seda preta?
Os teus olhos, Ana, são coisas que acontecem
A quem esteve fechada séculos numa gaveta.
Se não tivesse vindo o Príncipe estrangeiro
Enchendo a nossa casa de ramos de giesta
Estariam ainda dragões de nevoeiro
A guardar os teus olhos perdidos na floresta.
Nunca mais haveria crianças de mãos dadas
No modo singular como agora te sentas
E estaríamos ainda as duas separadas
Pela cortina velha de andorinhas cinzentas.
O mundo não seria uma coisa tão grande
A noite voltaria a tirar-nos a calma.
Ah, foi o telescópio do Príncipe Alexandre
Que me salvou a alma.
Natália Correia, Poesia Completa, "Poema para Ana",Pub. Dom Quixote, Lisboa, 2007.